Naquele tempo em que imperava a força humana, desde o nascer ao pôr do Sol.
O homem dobrava-se sobre o cabo da enxada e conseguia arranjar forças para cavar os terrenos onde cultivava o pão para o ano inteiro, com o qual sustentava a sua família."... MÊS DE MAIO MÊS DA AMARGURA, MAL AMANHECE, LOGO É NOITE ESCURA..."Analisando bem este provérbio Beijosense, vemos que ele significa as preocupações que então reinavam no mês de Maio.
Todo o tempo era pouco para cavar ou lavrar os campos e para fazer as sementeiras do milho.
Todo o tempo era pouco para cavar ou lavrar os campos e para fazer as sementeiras do milho.
Ainda vivemos essa experiência.
A maior parte dos terrenos eram cavados no mês de Maio.
Os Beijosenses pegavam no seu gado, principalmente bois, e com ele, em leiras de terreno que o justificassem, lavravam os terrenos para o milho.
Naquela altura era o cereal mais cultivado nos campos da nossa Aldeia. A casa que tivesse milho já era considerada farta, porquanto aquele grão era moído nos moinhos hidráulicos das ribeiras de Beijós ou no Rio Dão, e com a respectiva farinha, na maior parte das casas era cozido o pão (broa).
As famílias eram auto-suficientes.
Raramente se comprava pão de trigo na padaria, alguns só lhe tomavam o sabor em dias ou épocas festivas.
O sacrifício era muito.
Em Maio, quando o calor começava a apertar, os homens formavam os seus grupos e, nas propriedades de uns e de outros, em grande parte valia a entreajuda, quer dizer, cada grupo cavava os respectivos terrenos. Em vez de pagarem a quem os ajudasse a cavar as suas terras, coordenavam os esforços para todos os membros do grupo, juntos, cavarem os terrenos ora de um ora de outro.
O sacrifício era muito.
Em Maio, quando o calor começava a apertar, os homens formavam os seus grupos e, nas propriedades de uns e de outros, em grande parte valia a entreajuda, quer dizer, cada grupo cavava os respectivos terrenos. Em vez de pagarem a quem os ajudasse a cavar as suas terras, coordenavam os esforços para todos os membros do grupo, juntos, cavarem os terrenos ora de um ora de outro.
Não havia dinheiro naquela paga, mas somente o esforço humano.
O membro do grupo para quem os restantes iam trabalhar tinha que garantir a alimentação e a bebida durante todo o dia, com excepção da ceia.
Por vezes, o mesmo grupo juntava-se nos terrenos de outras pessoas que o contratava e que lhes pagava para os cavar.
Nós vivemos esta experiência naqueles dias de Maio das décadas de 50 e 60 do Século passado. Pelas 04;30h/05;00h da madrugada, descalços e com as calças atadas, junto aos pés, com uma folha de piteira para que as ervas e o mato lhes não agarrassem, para não romperem ou atrapalharem os trabalhos, apresentavamo-nos nos campos, para iniciar a sua cava.
"MATA-BICHO"
Naquela altura, o mata-bicho era uns figos secos e um golo de aguardente (cachaça, bagaço). Uma garrafa idêntica à das das águas das pedras (em Portugal), passava de boca-em-boca, pela qual directamente todos bebiam, não havia copo ou cálice.
Os figos e o bagaço pareciam ser abençoados.
Os figos e o bagaço pareciam ser abençoados.
Pouco alimento mas muito sustento.
Era o suficiente para iniciar os trabalhos e cavar até às 07;00h da manhã, altura em que era servido o desejum ou pequeno almoço.
COMER BEM E BASTAS VEZES
Com a força do trabalho conseguíamos digerir tudo o que comíamos.
As refeições eram servidas no campo, no local onde decorriam os trabalhos:
Às 07;00h - O pequeno almoço;
Às 10;00h - O almoço;
Às 13;00h - O jantar;
Às 17;00h/17;30h - A merenda;
Às 21;00h - A ceia.
Todas estas refeições, normalmente, eram constituídas por carnes e ou peixe, sempre bem regadas com o vinho caseiro, da região do Dão, produzido nas vinhas de Beijós.
Por vezes, em dias muito especiais e de maior sacrifício, aparecia uma sobremesa também especial constituída por rabanadas, de fatias de trigo douradas ou paridas, fritas na frigideira com óleo alimentar ou azeite puro e polvilhadas com açúcar ou mel caseiro.
ALGUMAS TRADIÇÕES TÊM VINDO A PERDER-SE COM O APARECIMENTO DOS TRACTORES AGRÍCOLAS:
Com o aparecimento dos tractores agrícolas, muitos dos sacrifícios que o homem suportava foram amenizados.
Quase todos os agricultores dispõem de tractor próprio e com ele amanha os seus campos no momento que mais lhe convier.
Deixou de cavar à enxada e também não tem necessidade de andar de noite ou de madrugada, nem nos calores rigorosos do meio dia.
OS FIGOS SECOS
Nos campos de Beijós ainda se vêem algumas figueiras. A qualidade mais apreciada é o figo pingo-de-mel.
Apesar de já chegarem tarde, muitos agricultores ainda os aproveitam e colocam-nos ao sol, em esteiras ou em palha e assim os secam naturalmente.
Depois de secos, poderão ser tratados com farinha, para absorver as humidades e são servidos durante o Inverno, para acompanhar o bagaço, nos dias mais frios.
O Algarve, ao Sul de Portugal, tem sido a região com produção industrial, por excelência, do figo seco.
Torres Novas também produz grande quantidade de figo seco preto. Também são muito procurados nos mercados devido às suas singulares propriedades.
Torres Novas também produz grande quantidade de figo seco preto. Também são muito procurados nos mercados devido às suas singulares propriedades.
Estamos certos que aguçámos os apetites a muito boa gente por todo o Mundo, contudo, há sempre maneira de matar os desejos.
Gostei muito de ler este artigo que me transportou a' minha infancia.
ResponderEliminarObrigado.
Villager, belos tempos.
ResponderEliminarMuito sacrifício, mas, muito mais solidariedade.
Esta mensagem é muito sentida.
A experiência nos levou a descrever parte da vida popular de outrora
Obrigado pela sua mensagem!