» BALADA DA ESPERANÇA «
“TER PAI”
Tenho pai que não me ouve;
Aquele que me acarinhou,
Até aos meus treze anos
Das amarguras da vida,
Choro muito a sua falta,
Denegriste sua imagem,
Que é difícil ir a ele,
Tanto mal lhe fizeste,
Custa a suportar a dor,
Por aquilo que semeaste
Porque também o mal tratei
O Mundo julga-me mal
Movida de opinião,
Mas o orgulho teu e meu,
Por isso não quero perder
“TER PAI”
I
Mãe,
Tenho pai que não me ouve;
Aquele que me acarinhou,
Até aos meus treze anos
E que nunca me faltou,
Até aos meus desenganos
E que foram alguns anos,
Aquele que me queria;
Sempre juntinho a ele,
Aquele que me levava,
Talvez para se distrair,
Que mágoas não teria,
Por que tinha que fugir?
II
Das amarguras da vida,
Que não soubeste transpor,
Usando-me como escudo,
Pensaste dar volta a tudo,
Na minha menoridade,
Usando só de maldade,
Pensaste tudo a teu jeito,
Dormias com ele no leito
E comias com ele à mesa,
Mas fizeste-lhe a surpresa,
Levaste-o a Tribunal,
Pensando que assim, afinal
Te impunhas contra ele,
Causaste-lhe sofrimento,
Ele resistiu ao tormento,
Cumpriu a imposição,
Pagando a minha pensão,
Mas fugiu desse horror
Por assim ter concluído
Que a traição o rondava,
Na sua própria casa
Onde a tua infidelidade
Às promessas que juraste,
Se tornara realidade,
Quando ele em ti confiou,
Durante anos e anos,
Trouxeste-lhe desenganos.
Deste-me pai,
Negaste-me seu amor,
Quando eu mais precisei,
Tantas vezes eu chorei,
Por não ter o melhor amigo;
É grande a minha tristeza,
Por muito que a vida me dê,
Não me dá tenho a certeza,
Daquilo que não consigo
Terei que andar à mercê.
III
Choro muito a sua falta,
Que não sei ultrapassar;
Entristece-me tanto ódio
Que ousaste semear,
Pensando só no teu pódio,
Com os amigos alcançar.
IV
Denegriste sua imagem,
Para tua Ira vingar,
A minha maior tristeza
Ensinares-me a censurar
Seus passos, firmes
E ousados,
Por ele te ignorar;
Porque sabe o que quer,
Disso eu tenho a certeza,
No papel de mulher,
Manchaste a tua nobreza.
V
Que é difícil ir a ele,
Porque não me quer mais ver,
Quantas vezes terá lutado,
Para me sentir correr
Para ele, ombro amigo,
Que não tive para chorar,
Estou sofrendo o castigo,
Por tanto o desprezar.
VI
Tanto mal lhe fizeste,
Que teve que desandar,
Para não se amargurar,
Com os problemas do lar;
Onde ficou o carinho,
Que lhe deverias dar?
Recebia-lo em casa,
Mas quase sempre a gritar;
Vivendo em agonia,
Não conseguindo harmonia,
Preferiu seguir destino,
Procurou melhor caminho,
Tu dele te libertas-te,
Mas nem comigo contaste,
Obrigaste-me a andar sem tino.
VII
Custa a suportar a dor,
Jamais o irei esquecer,
Porque é meu pai simplesmente,
Que dele tenho a semente,
Fruto do vosso amor,
Que no mundo irá crescer,
E me cala cá bem fundo,
Nesta vida amargurada,
Porque dele não tenho voz,
Do que já estou cansada,
Herança dos meus avós,
Que transporto neste Mundo.
VIII
Por aquilo que semeaste
Para mim, vida madrasta
Me deu o que eu não queria,
Assim me desamparaste
E vivo nesta agonia,
Longe do meu próprio pai,
Que não sei para onde vai,
Mas continua a lutar,
Na vida a declinar;
Ensina-me a lição,
Por tudo o que lhe fiz,
A consciência me diz,
Tenho que lhe dar razão!
IX
Porque também o mal tratei
Mas foi rancor que herdei
De ti, minha mãe querida;
Com ele me deste vida,
Mas negaste-me o pai,
Agora para onde vai,
Essa alma fervorosa,
Que a sua parte bondosa,
Da minha mente não sai.
X
O Mundo julga-me mal
Porque aprendi afinal
Com teu gesto adestrante,
O dinheiro movimentei,
Noutra conta o coloquei,
Sem saber o que fazia
Nos dezoito tão distante,
Fruto da minha inocência,
Animada na inconsciência
Tu fizeste,
Eu fiz igual,
Na sua cara cuspi,
Na presença de quem vi,
Mulher humilde e leal,
No parque no Carregal;
Demonstrei irreverência.
XI
Movida de opinião,
Ainda lhe fiz pior mal;
Levei-o ao tribunal,
Para, em forma legal,
Pensando na imposição,
De pagar o que suspendia;
Porque eu tratar deveria
Daquilo que lhe exigi,
Mas antes eu não cumpri,
Em tempo em que seria
Oportuno dar passada,
Em vez de seguir os teus,
Passos eu desse meu Deus,
E assim seguisse os seus,
Para dialogar com calma,
Do que movia a minh'alma,
O dinheiro da mesada,
Aquilo que nos separava.
XII
Mas o orgulho teu e meu,
Levou-me o amor seu,
P’ra abismo de noite escura,
Que entristece e satura,
Que não consigo vencer;
Tratei mal por culpa tua,
Sabes bem que não sonhava,
Em ver-me abandonada;
Por quem me dera o ser,
A quem tanto queria ver,
Próximo da minha vida,
Que, sem rumo sem guarida,
Custar-me está a vencer.
XIII
Por isso não quero perder
O calor que nele vai
Porque, ainda que não queiras,
As palavras derradeiras,
Desculpa!
Eu tenho pai!
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By Willoughby
Querido amigo
ResponderEliminarQue lindo poema, tão sensivel, vindo do fundo da alma.
Um beijo
Ester,
ResponderEliminarObrigado pelo seu comentário, com o qual exprime a sua apreciação do poema.
Obrigado...