sábado, outubro 30, 2010

BEIJÓS > E OS SEUS BARBEIROS

RECORDAR É VIVER - UMA PROFISSÃO A EXTINGUIR-SE 
As pequenas coisas fazem grandes recordações, desde que, de vez em quando, haja alguém que traga ao presente as memórias do passado.
Os Barbeiros em Beijós, infelizmente, têm vindo a acabar com o decorrer dos anos.
A Luísa, a nossa cabeleireira, tem vindo a ocupar-se dos tratamento dos cabelos das senhoras e dos homens, porque a maior parte dos barbeiros de que Beijós dispunha já faleceram.
OS BARBEIROS DE BEIJÓS
Pessoas humildes, agricultores que se dispunham a aperfeiçoar os seus conhecimentos junto de um oficial do mesmo ofício, com muitos anos de experiência.
Depois de terem algum à-vontade para pegar nas máquinas e nas navalhas, desenvolviam os seus misteres um pouco à sua maneira, por forma a conseguir que, das suas mãos, os seus clientes (fregueses) saíssem satisfeitos e com vontade de regressar daí  a algum tempo.
Nem todos dispunham de um espaço físico onde,  mais comodamente, pudessem acolher os clientes.
Por vezes, quando o tempo o permitia, junto a sua casa, na sua escada ou num lugar mais recatado, sentavam o seus clientes num banco (mocho) e, colocando o penteador sobre os ombros, apertado com um alfinete de segurança na nuca, assim iam aparando os cabelos e cortando as barbas.
Não era muito cómodo, porque o banco não o proporcionava, mas era a comodidade possível daqueles anos.
Mesmo aqueles que tinham o seu recanto na sua casa, estamos a recordar o Saudoso Joaquim Coelho, num pequeno espaço no edifício do Mini-mercado Peixeira, na Rua Abade Pais Pinto, também não possuía cadeira metálica. Mesmo ali, usava o mocho idêntico àquele que os seus colegas usavam na rua ou na escada do seu prédio.
AS VISITAS DOS BARBEIROS
Outrora, muitos Beijosenses tiveram o privilégio de estarem nos seus campos, no desempenho dos seus trabalhos agrícolas, e, a dado momento, comparecia ali o seu barbeiro, de malinha na mão com todos os seus apetrechos, pronto para tratar dos cabelos e/ou das barbas dos seus clientes. Não havia mocho para se sentarem. Faziam-no acomodados num muro de alvenaria, ou num bardão (desnível de terra batida, que amparava um espaço de terra a que, vulgarmente, se designa por quelha), por forma a que o artífice pudesse movimentar-se em volta do cliente.
O PAGAMENTO
Noutros tempos o povo tinha imensas dificuldades. Para muitos agricultores era difícil angariar dinheiro para as suas despesas.
A maior parte dos seus pagamentos eram feitos com géneros, daquilo que cultivava nos seus campos.
A melhor moeda de troca era o milho.
Era frequente vermos os Barbeiros andarem de rua em rua, com os seus sacos de serapilheira, daqueles que normalmente levavam à Aldeia o açúcar ou os adubos, e com uma medida de alqueire na mão, recolhendo esse cereais, de acordo com o contrato verbal que, normalmente, celebravam com os seus clientes.
Esse cereal, porque raramente esses cidadãos dele necessitavam para o seu e para consumo dos seus familiares, porquanto também o cultivavam nos seus campos, normalmente era vendido a outras pessoas da Aldeia ou das povoações vizinhas que dele necessitavam e que, então, lho pagavam com o dinheiro.
Enfim!
Pensamos que a Luísa, hoje, não recolhe este cereal. Actualmente, os tempos são outros, e os cidadãos trazem mais dinheiro consigo, moeda com que pagam, no acto, à/ao cabeleireira/o.
Não há dúvida que o homem, ontem como hoje, tende em se adaptar ao meio em que vive e às dificuldades do lugar e do tempo.
A lei da sobrevivência a tudo obriga.

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