Na semana Santa, durante muitos anos, manteve-se a tradição, de celebrar a Ementa/Amenta das Almas, em Beijós. Tinha como significado lembrar as almas dos nossos antepassados.
A Amenta das Almas era celebrada, a partir da meia noite, por um grupo de homens e mulheres de Beijós que, tomando isso com muita devoção e um são convívio, se reuniam para cantar em determinados locais previamente acordados, em todas as aldeias da freguesia.
O Grupo tinha regras de actuação. Não podiam ver ninguém, nem podiam ser vistos, enquanto cantavam. Quando iniciavam de cantar, se alguém tivesse que passar no local onde o grupo estivesse, teria que aguardar que acabasse essa cerimónia e seguisse o destino, só depois é que essa(s) pessoa (s) passava (m).
Por vezes, muitas pessoas deixavam lanches próximo dos locais onde o grupo actuava. Acabadas as cerimónias, o grupo servia-se dos alimentos e deixava a louça e a cestinha, que alguém depois iria recolher. Cumpria-se, assim, religiosamente, a regra de não verem ninguém nem serem vistos.
Muito bonito. Por vezes, quando se ouvia aquele canto, até o organismo humano reagia, como que se sentisse uma sensação horripilar. Em muitos lares, as famílias entravam em oração pelas almas dos seus ente-queridos já falecidos.
Não me lembro ter visto os versos que o Grupo cantava. Alguém os terá em Beijós. É pena que não os divulgue, para que se possa manter esta tradição ao longo dos tempos.
Recordo algumas pessoas que celebravam isto com muito brio e devoção, entre elas, os nossos Queridos Amigos, já falecidos: António Coelho Pais; Isabel da Lucrécia; Américo Coelho de Moura (o do correio); Messias Coelho do Amaral, etc.
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Mas esta prática não foi exclusiva de Beijós. Ainda há muitas aldeias, principalmente no norte de Portugal, onde essa tradição está bem viva.
Vejamos como é a Amenta das Almas em SANDOMIL:
" Amenta das Almas
Durante a Quaresma, depois da meia – noite, junta-se um grupo de pessoas idosas cantando, em locais previamente estabelecidos, os martírios do Senhor.
Já levam o meu Deus preso
Já o levam p`rá varanda
Preso em cordas de espaços
Na mão uma verde cana
Oh! Que gritos vão no horto
Madalena, que seria?
Crucificam Jesus
São ais da Virgem Maria
Quem me dera estar na fonte
Quando o meu Deus pediu água
Eu lhe dera de beber
A minha alma lhe entregara
Oh! Que lindos quatro dias
A Semana Santa tem
Quinta – Feira de endoença
A Sexta da Paixão
Sábado de Aleluia
Domingo da Ressurreição
Oh! Meu Deus quem foi o homem
Que andara pelos caminhos
E subira ao Calvário
E tirar a coroa de espinhos
Oh! Meu Deus
Quando Vos deram tal, vinagre a beber
Que lágrimas choraria
Vossa mãe só em vos ver
Oh! Almas, oh tristes almas
Viste lá o meu irmão ? !
Lá o viste estar de joelhos
A pedir a Deus perdão
Semana Santa"
Por Gingerly
Em Loriga esta tradição mantem-se bem viva, senão vejamos o que nos dizem:
ResponderEliminar___________
"A Amenta das Almas
Na etnografia de Loriga a existência da "Amenta das Almas" é uma tradição muito antiga, perdendo-se mesmo na noite dos tempos, e que se vem mantendo de geração em geração.
Esta prática religiosa tem lugar na noite de Sábado para Domingo, durante a Quaresma depois da 02h00 da manhã. Antes dessa hora os "Penitentes" começam por se reunir no Adro da Igreja. Pouco depois e, enquanto alguns sobem para a torre da Igreja, outros espalham-se pela vila em pontos altos que lhes possibilite ver a torre, para travarem um "duelo" de cantos, onde evocam e louvam a paixão e morte de Jesus a salvação das Almas. No silêncio da noite os cânticos ecoam pela Vila, acordando os crentes que começam a rezar.
Por meio de badaladas no sino da torre da Igreja anuncia-se a cerimónia.
Bendita e louvada seja,
A paixão do Redentor,
Para nos livrar das culpas
Morreu em nosso favor
*
Acorda, pecador, acorda,
Do sono em que está "dormente",
Lembra-te das benditas almas,
Que estão no fogo ardente.
Bendita e louvada seja,
A paixão do Redentor,
Para nos livrar das culpas
Morreu em nosso favor
*
Acorda, pecador, acorda,
Do sono em que está "dormente",
Lembra-te das benditas almas,
Que estão no fogo ardente.
Estas quadras cantadas com música elegíaca, arrastada, dolorosa, ecoam pelas ruas, despertando os que já dormem, para orem pelas almas dos seus mortos queridos, cobrindo a vila de saudades.
-Vozes dos "Penitentes":- Rezemos com devoção um Padre Nosso e Ave Maria,
-Respondem da torre da Igreja:- Seja pelo Divino amor de Deus, segue-se uma badalada.
Cântico:
Repetidas são as dores,
De contínuo estão gemendo,
Assim são as almas juntas,
No Purgatório ardendo.
-Vozes dos "Penitentes" pela vila:- Rezemos mais um Padre Nosso e outra Ave Maria.
-Respondem os "Penitentes" da torre da Igreja:- Seja pelo Divino amor de Deus.
*
Clamorosa é a recitação do Padre Nosso e da Ave Maria e pungente é a resposta.
*
-Vozes dos "Penitentes" pela vila:- Dai-lhes o Senhor, o eterno descanso em paz.
-Respondem os "Penitentes" da torre da Igreja:- Entre o esplendor e luz perpétua, fazei que descansem em paz.
Vem a seguir a exortação aos crentes que dormem na inconsciência do momento da vida para que não esqueçam os que penam os seus pecados, lembrando-os do efémero que é a vida deste mundo.
Olha cristão que és terra
Olha que há-des morrer
Há-des dar contas a Deus
Do teu bom e mau viver
Uma alma só que tens
Se a perdes que será?
Se cais no mesmo abismo
Nunca mais a Deus verás
Não caias em tentação
Como calma na geada
Que andam a tentar
Os três inimigos da alma
Confessa os teus pecados,
Emenda a tua vida,
Que a morte te anda buscando,
De noite e mais de dia.
-Vozes dos "Penitentes" pela vila:- Rezemos-lhe com devoção uma Salvé Rainha.
-Respondem da torre da Igreja:- Seja por seus infinitos louvores.
Quando a manhã começa, os "Penitentes" juntam-se novamente no adro da Igreja para todos juntos fazerem arruada, rezando ainda pelas almas dos seus mortos regressando finalmente ao seus lares, certos do haver cumprido este seu dever sagrado.
***
Nota:-São muitas as pessoas que a Loriga se deslocam, para ouvir a Amenta das Almas, atraídas pela sua fama. Também a esta Vila se deslocou um dia, Michel Giacometti, grande pesquisador por todo o país, das tradições, dos cantares, dos usos e costumes, aos quais dedicou a sua vida em Portugal.
Esta secular tradição em Loriga, da Amenta das Almas, puderam assim ficar registadas na grandiosa obra desse histórico pesquisador de tradições portuguesas."
Por Gingerly
Entramos na semana Santa. A Amenta das Almas deverá iniciar-se hoje. Como irá ser em Beijós?
ResponderEliminarJá ouvi comentar que o Sr. Agostinho Marques do Nascimento, mui digno Presidente da Junta de Freguesia da nossa Terra, também está ligado a estas coisas!
Será que ele não vai dar um jeitinho na divulgação dos versos da Amenta das Almas, para que possam constar para a posteridade?
Óh gente de Beijós, vamos lá dar uma ajuda.:-))))
Encontro da Encomendação das Almas na Guarda
ResponderEliminarOito colectividades culturais do concelho da Guarda participam, no dia 31 de Março, pelas 22.00 horas, na Praça Velha, num Encontro da Encomendação das Almas. Os grupos, que constituem as cerca de 130 vozes, vão entoar os cânticos próprios da Quaresma.
Integram esta iniciativa o Grupo de Cantares “Camponeses de Aldeia do Bispo”, Grupo de Cantares “Ontem e Amanhã” de Maçainhas, Grupo de Cantares “A Mensagem” de São Miguel, Grupo de Encomendação das Almas da Faia, Associação da Juventude Activa da Castanheira, Centro Cultural e Social do Marmeleiro, Grupo Social e Desportivo de Quinta de Gonçalo Martins e Associação Cultural Social e Recreativa da Sequeira.
Com este Encontro, a Câmara Municipal da Guarda pretende proporcionar a toda a cidade a vivência desta tradição da Quaresma que algumas das nossas freguesias ainda preservam.
A “Encomendação das Almas” terá a participação especial Marcos Cavaleiro (percussão), Miguel Calhaz (contra-baixo) e Marco Figueiredo (hammond).
De acordo com o Cónego Eugénio da Cunha Sério, que assina o texto explicativo do encontro, “pelas quebradas das serras ou planuras além, na calada da noite, durante este período quaresmal, ouvem-se, sobretudo nas aldeias, os cânticos soturnos e alongados chamados amentas ou ementas, como se queira dizer.
Desta piedade popular ‘pelas almas que Deus já lá tem’ que foi ocupando maior espaço na tradição religiosa dirigida pelos sentimentos do povo se tira o nome de tal costume: amenta – trazer à mente, lembrar – das almas.”
Para a realização deste Encontro o tráfego na Praça Velha vai ser interditado, sendo alternativa a Rua General Póvoas e Rua Augusto Gil.
Recorde-se que o primeiro Encontro de Encomendação das Almas realizado no concelho da Guarda, teve lugar o ano passado, em Aldeia do Bispo.
In Agência Eclesia
Cristo é a plenitude do homem
ResponderEliminarCatequese do Cardeal-Patriarca de Lisboa no Domingo de Ramos
1. Reflectimos, ao longo da Quaresma, nas razões do nosso acreditar, ou seja, sobre a base racional da nossa fé. Atitude verdadeiramente humana, a fé é um dom de Deus. Nela encontram-se o que de mais profundo tem a natureza do homem e a acção de Deus em nós. Ele que nos criou, acompanha-nos na busca da plenitude da vida, em cujo dinamismo se situa a fé. Este encontro do humano com o divino, exprime realisticamente o mistério do homem e realizou-se plenamente em Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, encarnação da Palavra de Deus. Pela fé o homem participa de Jesus Cristo, encontro maravilhoso da divindade com a humanidade, em Quem encontra a sua própria plenitude. Jesus Cristo é o verdadeiro fundamento e a base sólida da nossa fé, em todas as suas dimensões, enquanto expressão da acção de Deus em nós e das nossas mais belas capacidades de buscarmos a verdade.
Esta caminhada quaresmal só podia conduzir-nos ao encontro com Jesus Cristo, que a Liturgia contempla nesta Semana Maior, na Sua Páscoa, plenitude humana definitivamente conseguida, pela vitória de Deus sobre o pecado e a morte, no triunfo maravilhoso da vida. Como João Paulo II no início do seu Pontificado, apetece-nos exclamar, no termo da nossa caminhada quaresmal e no início da semana pascal: “A única orientação do espírito, a única direcção da inteligência, da vontade e do coração para nós é esta: na direcção de Cristo, Redentor do homem, na direcção de Cristo, Redentor do mundo. Para Ele queremos olhar, porque só n’Ele, Filho de Deus, está a salvação, exclamando como Pedro: Para quem iremos nós Senhor?! Tu tens Palavras de vida eterna”1.
A Palavra eterna
2. Pedro encontrou a verdadeira razão para acreditar e ficar com Jesus: Ele é a Palavra eterna (cf. Jo. 6,68ss). Jesus Cristo é a humanização do “Logos” eterno, o Verbo divino. Ele é o pensamento divino, tornado Palavra na comunicação reveladora com os homens. E esse Verbo eterno pode entrar em diálogo com os homens porque estes participam dessa inteligência divina, foram criados à imagem de Deus. Antes de se revelar, Deus criou os homens com essa participação do Logos, que os tornava capazes de acolher a revelação. Por isso, ao contemplarmos Jesus Cristo, a primeira atitude espontânea é abrir, para O escutar, a nossa inteligência, vontade e coração, tudo aquilo que constitui a espiritualidade do homem e o torna capaz de escutar Deus.
A nossa adesão a Jesus Cristo envolve, desde o primeiro momento, a nossa inteligência. A racionalidade da nossa fé enraíza no Verbo eterno de Deus, porque Ele, antes de se fazer Homem, era, desde toda a eternidade, a inteligência divina (cf. Jo. 1,1-3) e criou-nos inteligentes como Ele, que “é a imagem de Deus invisível, por quem todas as coisas foram feitas” (Col. 1,15-16). O homem foi criado como a inteligência do Universo e por isso o Verbo eterno pôde fazer-Se homem. A fé em Cristo é o encontro de duas inteligências, a humana e a divina; para o homem, criado à imagem de Deus, tudo em Cristo é inteligível. O próprio “mistério”, escondido desde todos os séculos em Deus (cf. 1Co. 2,8ss), abre-se à compreensão do homem, quando a sua inteligência se encontra com Cristo, Verbo de Deus.
Porque Cristo é a encarnação do Logos eterno de Deus, Ele é a verdade e o caminho para o Pai. A verdade será sempre, no coração do homem, a irradiação da luz da inteligência divina e ao tocá-la, o homem percebe que essa verdade nos conduz ao Pai, o Deus eterno.
Porque Cristo é o Verbo eterno, para acreditar n’Ele basta escutá-l’O. A Palavra escuta-se e assim gera o encontro entre duas inteligências e dois corações. “Este é o Meu Filho bem amado… escutai-O” (Mt. 17,5). Escutar Jesus é o principal caminho para o enraizamento da fé. Escutá-l’O nas suas Palavras, nos seus gestos, nos seus milagres, nos seus silêncios; escutá-l’O na sua maneira de viver e de morrer, escutá-l’O na Igreja e na maneira de estar e de a amar, ser capaz de O escutar na palavra dos seus discípulos. Escutá-l’O é aprender e isso é tarefa e dignidade da nossa inteligência.
Escutando Jesus Cristo, conhecemos o Pai
3. Em Jesus Cristo a nossa inteligência abre-se ao conhecimento do insondável mistério de Deus. Talvez ainda não tenhamos percebido a radicalidade da afirmação: Cristo é o único caminho: “Eu e o Pai somos um só”; “quem Me vê, vê o Pai”, o que equivale a dizer, quem Me conhece, conhece o Pai.
O conhecimento de Deus a que temos acesso, por Jesus Cristo, ensina-nos o que Deus Pai é para nós, um Pai misericordioso, que nos ama e deseja ser amado por nós, que não quer a morte do pecador, mas deseja, para ele, a vida. A nossa inteligência abre-se a esse mistério, antes de mais contemplando o que Jesus Cristo foi para Deus, Seu Pai, como Homem que é Filho: “Só Ele satisfez ao eterno amor do Pai, aquela paternidade que desde o princípio se expressou na criação do mundo… Só Ele correspondeu àquela paternidade de Deus e aquele amor, de certo modo rejeitado pelo homem”. Na obediência e no amor filial de Jesus Cristo, entendemos o mistério da nossa redenção, fruto do amor misericordioso de Deus. “A redenção do mundo, aquele tremendo mistério do amor em que a criação foi renovada, é, na sua raiz mais profunda, a plenitude da justiça num coração humano, no coração do Filho Primogénito”2.
Tudo o que Deus deseja para o homem realizou-o plenamente no coração do Filho e, assim, n’Ele, podemos conhecer o insondável amor de Deus por nós. Ao contrário de todas as filosofias e sabedorias humanas que chegaram ao conhecimento de Deus, Jesus Cristo é um caminho existencial, experiencial, para chegar a conhecer Deus. Captamos o que Deus é, no que Ele faz por nós. E fez tudo isso em plenitude na pessoa do Verbo encarnado. Verdadeiramente chegar a Deus é uma “imitação” de Jesus Cristo, conhecer o que Deus é para nós, é reconhecer e contemplar o que Ele é em Jesus Cristo. Jesus disse um dia aos discípulos: “Vós chamais-Me Mestre e dizeis bem, porque o sou” (Jo. 13,13). Ele é sempre e em tudo, o nosso Mestre, o que nos ensina o conhecimento de Deus.
Unindo-nos a Jesus Cristo, conhecemos o homem
4. Este é um dos aspectos mais exigentes da fé cristã: ter em Jesus Cristo a compreensão do homem. É exigente, porque toca de perto o concreto da nossa existência. Toda a aventura do conhecimento humano tem sido marcada por essa busca da compreensão do homem, do sentido da sua vida, do seu destino, da natureza da sua realização, em felicidade. Todas as antropologias filosóficas e culturais procuraram compreender o homem a partir de si mesmo. Ora Jesus Cristo aparece-nos como “o Homem”; n’Ele eu posso continuar a procurar a compreensão do homem, a partir do Homem. Ele é mais do que um modelo, ponto de referência comparativo. A fé proporciona-nos uma união vital com Cristo, como dizia Paulo: “Para mim viver é Cristo”. É da densidade dessa união que brota a compreensão de nós mesmos. João Paulo II exprimiu, assim, esta densidade existencial: “Cristo, Redentor do mundo, é Aquele que penetrou, de uma maneira singular e que não se pode repetir, no mistério do homem e entrou no seu coração”. E citando o Concílio Vaticano II: “Na realidade, só no mistério do Verbo encarnado se esclarece, verdadeiramente, o mistério do homem”3.
Desta compreensão do homem, em Cristo, brota o sentido definitivo da sua vida com os outros, da sua morte, do sofrimento e da dor, sobretudo do amor. Em Cristo percebemos que o homem não pode viver sem amor. Citando, de novo, a Redemptor Hominis: “O homem que quiser compreender-se a si mesmo profundamente, deve, com a sua inquietude, incerteza e também fraqueza e pecaminosidade, com a sua vida e com a sua morte, aproximar-se de Cristo. Deve mergulhar n’Ele com tudo o que é (…) Quando se realiza, no homem, este processo profundo, produz frutos de adoração a Deus e de profunda maravilha perante si próprio”4.
Esta visão cristocêntrica do homem é a base da antropologia cristã, isto é, da doutrina da Igreja acerca do homem, fundamento da sua dignidade, da exigência ética da sua existência, do horizonte da sua plena realização. “A Igreja, que não cessa de contemplar o mistério de Cristo, sabe, com a certeza da fé, que a Redenção que se verificou na Cruz, restitui definitivamente ao homem a dignidade e o sentido da sua existência no mundo, sentido que havia perdido, em grande parte, por causa do pecado”5.
Este é o contributo da Igreja para a cultura, através da evangelização: proclamar a grandeza e a dignidade do homem, recuperadas na redenção. “A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, de modo particular, do nosso tempo, é a de dirigir o olhar do homem e de endereçar a consciência e a experiência de toda a humanidade, para o mistério de Cristo”6.
6. Nesta Semana Pascal somos chamados a fazê-lo, através da Liturgia, na profundidade da nossa fé. Assim, cada Páscoa celebrada será redescoberta do sentido da vida do homem e da sua história.
Sé Patriarcal, 1 de Abril de 2007
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca
In Agência Ecclésia
Semana Santa de Viana reforça componente cultural
ResponderEliminarA Semana Santa, ou “Semana Maior”, na cidade de Viana do Castelo conta este ano com um reforço da sua componente cultural, que se entrecruza com as cerimónias religiosas da vivência do mistério da redenção pela morte e ressurreição de Cristo.
No Domingo de Ramos, o Bispo Diocesano benze os ramos na igreja da Misericórdia, às 10h30, seguindo os fi éis em procissão para a Sé Catedral, recordando a entrada solene de Jesus Cristo em Jerusalém, para celebrar a Missa da Paixão. Ao início da tarde, às 15h30, são rezadas Vésperas, seguidas da Procissão de Passos, sendo proferido da sacada dos antigos paços do concelho o Sermão do Encontro. O percurso deste cortejo litúrgico respeita o itinerário mais recente, sendo que os promotores apelam aos moradores que embelezem as janelas ou sacadas destas ruas.
Pelas 17h00, no baixo do edifício dos antigos paços do concelho, D. José Pedreira inaugura uma exposição denominada “Da Via-Sacra na cidade dos Homens à Páscoa da ressurreição”, o slogan que dá o mote a toda a programação cultural, que conta o empenhamento dos rotários de Viana do Castelo. Trata-se de uma mostra de vinte e uma fotografi as, da autoria de Vítor Roriz, que retratam aspectos da via- -sacra a partir de peças de arte sacra espalhadas pelo arciprestado de Viana.
A programação de Domingos de Ramos completa- -se com a execução do “Stabat Mater” pela Academia de Música de Viana do Castelo, na Igreja de S. Domingos pelas 21h00.
Na segunda-feira, Guilherme de Oliveira Martins, presidente do Tribunal de Contas e ex-ministro, intervém no Instituto Católico, às 21h00, sobre a seguinte temática: “Da Via-Sacra na cidade dos Homens à Páscoa da ressurreição”.
Esta visão de um homem da sociedade é complementada com a visão de um sacerdote com a intervenção do padre José Martins Maia, ex-presidente do CNIS, na quarta-feira (dia 4), à mesma hora e no mesmo local. Como refere Manuel Domingos, secretário do Rotary Club de Viana, trata-se de fomentar espaços de refl exão no «sentido de conscien cializar para as manifestações actuais da “paixão e morte” com que diariamente e nas nossas comunidades nos confrontamos », disponibilizando, igualmente, «momentos e espaços de ressurreição para todos».
O Tríduo Pascal inicia-se na Quinta-feira Santa, com a Missa Crismal, na qual os presbíteros de toda a diocese concelebram com o Bispo, numa das principais manifestações de comunhão. Nesta Eucaristia fazem-se a “renovação das promessas sacerdotais”, a consagração do Crisma e a bênção dos Santos Óleos.
Ao final do dia (19h00) celebra-se a missa vespertina da Ceia do Senhor que integra a cerimónia litúrgica do Lava pés, a apresentação de ofertas para os pobres e a procissão do Santíssimo Sacramento. Numa noite de vigília e oração, na cidade realiza-se a tradicional visita às capelas e igrejas abertas durante a noite para o efeito, desde os principais templos às capelas menos conhecidas como a da Casa da Carreira (Câmara Municipal), São Roque (junto à Senhora da Agonia), Senhora das Candeias (Largo Vasco da Gama), entre outras.
Na Sexta-feira Santa, às 15h00, o Bispo Diocesano preside à celebração da Paixão do Senhor, durante a qual, além da Liturgia da Palavra e da distribuição da Comunhão, se adora a Cruz. Do Santuário de Nossa Senhora da Agonia à Sé Catedral é o percurso da via-sacra, a partir das 21h00. Na primeira estação, com a denúncia dos principais pecados sociais desta época, será dado o mote para um percurso de oração e refl exão, que terá como apoio a projecção de imagens do fi lme “A Paixão de Cristo”.
O Sábado Santo é o ponto culminante de todo o ano litúrgico e dos mistérios salvífi cos que se celebram. A Vigília Pascal engloba a Liturgia da Luz, com a bênção do lume novo e do círio pascal e a entoação do Precónio Pascal; Liturgia da Palavra, longa meditação das maravilhas operadas por Deus em favor do povo; Liturgia Baptismal, bênção da água, baptismo e renovação das promessas; e Liturgia Eucarística, na qual culmina toda a acção pela qual Deus, em Cristo, santifi ca o mundo.
Paulo Gomes, Diário do Minho
In Agência Ecclésia
EMENTA DAS ALMAS
ResponderEliminarPelo Mundo e em Santana de Jacaré, no Brasil
A recomenda de almas consiste em um grupo de pessoas que durante o período da quaresma reúne-se e sai, altas horas da noite, cantando e rezando pelas almas que padecem no inferno, purgatório ou vagam no espaço.
Os que não falecem de morte natural, tendem a atormentar os vivos, portanto, é necessário que se façam orações e penitências para que as almas possam finalmente, descansar em paz.
Os encomendadores de Santana do Jacaré aparecem, pela cidade, as quartas e sextas-feiras, envoltos em lençóis à guisa de mortalha. Cantam e rezam nas encruzilhadas, cruzeiros e capelas, cumprindo de três a nove paradas, sempre em número ímpar, caminhando em silêncio e cabeça baixa.
No início e no fim de cada parada, fazem soar a matraca e o berra-boi. Pedem pelas almas dos que morreram afogados, queimados, enforcados, linchados, assassinados ou em acidentes e pelos que se suicidaram.
Acreditam que não devem olhar para trás, pois verão as almas que os acompanham. As pessoas dentro das casas ao ouvirem a matraca e a cantoria, apagam as luzes e permanecem em silêncio ou oração, até que o grupo se afaste. Estes também acreditam que se for espiar, verão os mortos seguindo o cortejo.
É costume ofertarem um café ou lanche aos penitentes que, após a refeição, seguem para completar a recomenda daquela noite.
A cantoria é feita por um solista, uma espécie de chefe, sendo que os demais o obedecem e participam do coro.
A recomenda pode ainda receber outros nomes como: deitar às almas, pregão das almas, encomenda das almas, amentar ou lamentar as almas. Na igreja católica, amenta é a prece por um defunto ou espórtula que se dá ao padre para orar pelas almas.
Basicamente é esta a estrutura do fenômeno, entretanto, dentro de sua dinâmica podem aparecer outros detalhes e variações.
Histórico e dados bibliográficos
A tradição chegou com os colonizadores portugueses, procedendo de práticas religiosas medievais. Segundo monografia de Rossini Tavares de Lima, temos que a mais antiga referência sobre o assunto aparece na cidade de Coimbra, citada por Teófilo Braga e datada de 1515.
Em 1579, Afonso Fernandes Barbus, natural de Penafiel, costumava recomendar almas.
"...de ilustre prosápia e ferreiro por ofício e que foi o autor de se recomendarem as almas à noite com a campainha; ação piedosa, que em algumas partes se usa dando umas tantas badaladas no sino" (Viterbo)
Assim no século XVII, Francisco Manoel de Melo, na peça "Fidalgo Aprendiz", confirma a existência do fato:
"Voz: Lembrai-vos das almas que estão no fogo..."
Margot e Jorge Dias em "A encomenda das almas" (Imprensa Portuguesa: Porto, 1953) pelos estudos efetuados, concluem que há probabilidade de que a origem do costume esteja em um cargo público existente na Espanha até o século XVIII e que em Santiago de Compostela recebia o nome de nulidor ou coquin. O citado personagem saia ao cair da noite a encomendar as almas, fazendo soar uma campainha e pedindo Pai Nosso e Ave Maria pelos que padeciam no purgatório e lembrando também aos cidadãos que tivessem cuidado com incêndios.
Esta prática teria passado para pessoas do povo e no processo acrescida de outros elementos tradicionais, formulada e reformuladas em sua própria dinâmica até os nossos dias. Os autores esclarecem que, pelo menos em nível de bibliografia, o costume desapareceu da Espanha e da Europa. Permaneceu apenas em Portugal, foi abandonado pela Igreja, mas ficou a gosto do povo, estendendo-se desde o Minho e Trás-os-Montes ao Algarve.
Podemos encontrar também outras referências no Dicionário de Folclore de Luís da Câmara Cascudo.
Portugal. Anterior à pesquisa de Margot e Jorge Dias há a obra de Jaime Lopes Dias, onde o autor informa o costume de encomendar almas nas localidades de Beira Baixa, no Vale do Lobo e Idanha a Nova.
São mulheres que sobem aos campanários das igrejas ou lugares altos, onde rezam e cantam, nas noites da quaresma. Diz o autor ser uma tradição bastante espalhada por todo o país e que não há na Espanha ou outro local da Europa. Menciona-o nas ilhas adjacentes a Portugal e no Brasil, anotando que há na Iugoslávia a lamentação dos mortos, porém são cantos e lamentações para uma alma em particular, não tendo parâmetros com o objeto estudado.
"Eu vos peço irmãos meus
filhos de São José
rezemos um Pai Nosso
as almas que estão de pé"
"Eu vos peço irmãos meus
aqui neste auditório rezemos um Pai Nosso
pelas almas do purgatório"
Anotamos aqui duas estrofes do canto recolhido pelo autor, para compará-los com os dados que se seguem.
Em 1945, Luís Chaves em seu livro "Folclore religioso", fala sobre amentar as almas, culto aos mortos feito junto aos cruzeiros. Grupos de homens e mulheres seguem a noite pelas ruas do povoado, parando nas encruzilhadas, orando e cantando tristemente pelos que faleceram. São estas algumas das estrofes recolhidas na oportunidade:
"Eu vos peço irmãos meus
aqui neste auditório
rezemos um Pai Nosso
p‘elas almas do purgatório
Acordai, ó irmãos meus
desse sono em que estais
rezemos um Pai Nosso
p‘elas almas de nossos pais."
Há, portanto, semelhança entre as estrofes do canto recolhido por Jaime Lopes Dias, no que concerne aos apelos que se fazem em nome das almas e o pedido para que seja rezado o Pai Nosso.
Como referência bibliográfica em Portugal, temos ainda a pesquisa de Augusto César Pires de Lima e Alexandre Lima Carneiro, encontradas na Separata Douro Litoral III-.IV da Quarta Série: Porto, 1951.
Brasil: Saint‘Hilaire quando de sua viagem ao Brasil, passando pela Província de Minas Gerais, assistiu e menciona o fato de ouvir passar pelas ruas procissões a que chamavam de "procissões das almas". Estando na Vila do Príncipe, durante a quaresma, três vezes por semana eram feitas as citadas devoções com o objectivo de salvar do purgatório as almas necessitadas:
"São ordinariamente precedidas por uma matraca, nenhum sacerdote as acompanha e são unicamente constituídas pelos habitantes do lugar possuidores de voz agradável. Vi procissões tais como acabamos de descrever também em Itabira."
Uma das mais antigas descricões a respeito do assunto é relatada por Mello Morais filho, apresentando inclusive elementos bem diferenciados.
Aparecem em suas descricões penitentes vestindo saias, coroados de espinhos, com as costas nuas e que junto aos oratórios e cruzes paravam para orar e açoitavam-se sem piedade. O cortejo era acompanhado por instrumentos musicais, principalmente violoncelo e rabecas, além de matraca e campainha.
Constituía grave pecado abrir portas ou janelas, além do que, tinham muito medo, pois quem espiasse veria as almas acompanhando o cortejo, que findava sempre aos primeiros cantos do galo.
Pereira da Costa, outro autor do início do século, relata a recomenda em sua obra "Folclore Pernambucano".
Alceu Maynard na década de 50 realizou pesquisas em Tatuí (SP), no bairro dos Miranda. É também sua a pesquisa feita em Redenção da Serra.
Reportando-nos à monografia já citada de Rossini Tavares de Lima, este com um grupo de pesquisadores, recolheram dados em diversos locais do Estado de São Paulo e Minas Gerais: Pirangí, Itaberá, Rio Branco, Lima, Novo Horizonte, São Manoel, São Joaquim da Barra, Vargem Grande do Sul, Laranjal, Franca, Pereiras, Santa Rosa do Viterbo e Ponte Nova.
As características comuns entre estas manifestações dessas cidades são:
Época: quaresma.
Dias: quartas e sextas-feiras de preferência
Horas: após as 21 ou 22 horas
Instrumentos: matraca ou berra-boi ou só matraca
Local: encruzilhadas, cruzeiros, capelas, portas das casas
Vestimenta: comum e envoltos em lençóis (exceto na fazenda Caetetuba, em São Manoel, onde os recomendadores colocam-se sob uma espécie de pálio, feito com um lençol estendido sobre quatro varas).
Número de paradas: de três a nove (sempre número ímpar)
Regras: caminhar lento, em silêncio e jamais olhar para trás, cumprir a obrigação por sete anos consecutivos.
Data de 1947 a monografia de José Nascimento de Almeida Prado, onde ele aborda também a devoção realizada na quaresma, muito semelhante à de Santana do Jacaré, no sentido de rezarem o Pai Nosso, a Ave Maria, usarem apenas a matraca e cantarem para São Miguel.
Costumam também oferecer café aos participantes, com a diferença de não vestirem a mortalha.
Em 1966 Kilza Setti pesquisa a recomenda nos Municípios de Lindóia e Socorro (SP, trabalho publicado na Revista Brasileira de Folclore, onde se observa a letra do tema principal, quase o mesmo de Santa do Jacaré.
Elias Xidieh através do Instituo de Estudos Brasileiros (USP) publicou em 1972 pesquisa feita na região de Jardinópolis até Tabapuã (SP). A recomenda aparece com o nome de "devoção das almas" e "canto das almas penadas".
(...)
Afinal, como vem referido no rosto do tema, há restrições aos contactos com os grupos que se propõem celebrar a Amenta das Almas. Isso também podemos constar no comentário anterior, de cujo facto se reproduz a seguir:
ResponderEliminar"...Constituía grave pecado abrir portas ou janelas, além do que, tinham muito medo, pois quem espiasse veria as almas acompanhando o cortejo, que findava sempre aos primeiros cantos do galo."(...)
eu acho que essa escola tem muitos empregados em comparação à escola Alexandre Herculano
ResponderEliminarEu acho que os empregados dessa escola não são empregados decentes, por exemplo o Sr.José já discutiu com outro funcionário que se chama Sr.Joaquim em frente aos alunos. Esses dois empregados deviam se despedidos, estão a dar um mau exemplo aos alunos que frequentam a escola em questão. foi por isso que eu disse a alguns pais para retirarem os respectivos filhos dessa escola e eles também concordaram e não quiseram os seus filhos nessa escola nunca mais.
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