segunda-feira, maio 07, 2007

A AGRICULTURA

PROVÉRBIO

Mês de Maio
Mês da amargura,
Ainda mal é manhã,
Já é noite escura.

Um provérbio de Beijós, que, apesar dos dias já serem grandes, ilustra bem a falta de tempo, as fadigas, as preocupações, para tratar do cultivo dos campos, no mês de Maio, na nossa Aldeia.

Maio, para Beijós, sempre foi o mês em que se faziam a maior parte dos trabalhos do campo, na agricultura.
As plantações (vulgo sementeiras) das batatas iniciadas em Fevereiro/Março, a maior parte ocorriam nos meses de Abril/Maio, seguramente, que, ainda hoje, haverá muita gente que, olhando ao tempo e aos recursos hídricos dos terrenos, trata desta cultura nestes meses.
Era o tempo em que se despejavam as casas. Quer dizer: Levavam-se de casa para os terrenos, as batatas que, normalmente, eram reservadas para a sementeira. Nessa altura, em muitos lares, além da batata velha passar a ficar engelhada e, por isso, não motivar muito o seu consumo em determinados pratos, também era pouca.
No mês de Maio, lavravam-se as terras, para as sementeiras do milho e feijão em todos os lameiros, designadamente:-
Prados,
Mestras,
Cordoira,
Ribeira,
Pisão,
Várzeas,
Lameiras,
Praçarias,
Braceiras,
Lampaças, Etc.
Como os terrenos, normalmente, eram lavrados com os bois, isto há cerca de 50 anos, os beijosenses tinham que madrugar, para evitar que os bois andassem nos trabalhos pela hora do calor, por causa da mosca, que os afligia.
Quantas vezes tinham que iniciar a lavragem das terras a partir do meio da tarde da véspera, e reiniciar pelas 4/5 horas da manhã, para terminar até às dez horas, do dia da lavra. Depois, o lançar as sementes à terra e o agradar, normalmente, acabava por volta das 12/13 horas. Uma hora boa para retirar o gado para a sombra, ou para os currais.
Era a hora em que as pessoas também se afastavam do calor. Tomavam a sua sesta, entre as 13/15 horas (???).
O cansaço era muito, mas as pessoas ajudavam-se mutuamente. Coordenavam os seus trabalhos, por forma a poderem estar nas lavragens dos terrenos dos amigos.
Formavam-se fortes equipas de grandes resistentes. Não havia trabalho que lhes causasse receio. Quantas vezes, ao acordar pela madrugada, para iniciar um novo dia, as pessoas se encontravam mais maçadas do que quando se deitaram. Mas, quando se propunham iniciar os trabalhos, antes das primeiras cavadelas, quase sempre pelas 4/5 horas da manhã, rodava entre eles uma garrafa de vidro, idêntica às das águas das pedras, com aguardente ( bagaço). Comiam-se uns figos secos e, todos os membros do grupo, bebiam uns goles de aguardente, pela própria garrafa. Não havia receio de doenças (???), contagiosas. Com essa aguardente, chamado o mata bicho, esses homens ficavam cheios de energia. Acabava-se o cansaço e arranjava-se coragem para enfrentar o novo dia de forte labuta, que interrompiam somente para tomar as refeições.
Pelas 7 horas da manhã, chegava o desejum (pequeno almoço), composto por enchidos caseiros (chouriço, morcelas), presunto, queijo, carne de porco cozida, peixe frito, bacalhau assado com cebola, alho, louro, azeite e vinagre, também caseiros, etc. A partir do pequeno almoço, os homens já passavam a beber vinho. Era o vinho que, depois, os animava e lhes dava forças para o trabalho (isto quando bebido regradamente, porque, se ingerido em excesso, as pessoas acabavam por ficar dominados pela bebida e deixavam de ter forças para trabalhar).
Com esses alimentos ganhavam energias para mais uma empreitada. Era mesmo uma corrida. Tudo tinha que rodar para que os terrenos ficassem prontos no período pré-concebido, por vezes os hábitos adquiridos com os anos impunham alguma obrigação, perante os trabalhadores, no que respeitava ao tempo e espaço/trabalho.
Pelas dez horas da manhã, chegava o almoço. Esta refeição já era composta por batatas, feijões, grão de bico, mercearias hortaliças, acompanhadas por carnes de porco, de aves, de ovelha/carneiro, normalmente, cozidas.
Cerca das 13 horas, servia-se o jantar, composto por alimentos idênticos aos do almoço.
Pelas 16/17 horas, servia-se a merenda, alimentos idênticos aos do pequeno almoço.
À noite, cerca das 20/21 horas, já cada um em suas casas e por sua conta, as pessoas ceavam. Refeição composta normalmente por sopa de legumes/hortaliça e algumas carnes/enchidos ou queijo caseiro (tudo dependia do rendimento que cada família tinha ou dos animais que tratava, uma vez que se remediava com tudo o que tinha de seu, daquilo que produzia).

Só mais tarde, já nos anos sessenta, chegaram os tractores. O Sr. Armindo Coelho de Moura (O Bigodes) foi das primeiras pessoas a possuir tractor, que passou a ser conduzido pelo irmão Sr. José Alberto. A primeira viagem que fizeram com essa máquina foi até ao Vale da Cal, pelos caminhos dos pinhais. Houve como que uma inauguração dessa experiência tractorista. Na nossa Aldeia. Encheram o reboque de pessoas e fizeram assim a viagem, a um Domingo à tarde.
Mas, para Beijós, naquela altura, perante as dificuldades de acessibilidades para os terrenos, essa máquina não ia a todos os terrenos, que continuavam a ser cavados à enxada ou lavrados com o gado.
Desde então, foram feitos muitos melhoramentos nos caminhos. Cada pessoa teve que rasgar caminhos nas suas propriedades, para facilitar o cultivo das suas terras. As autarquias também rasgaram estradas nos eixos principais da Aldeia e melhoraram os acessos aos terrenos mais produtivos e aos pinhais, para combate aos fogos no Verão.
Apesar de tudo, Beijós será a aldeia com melhores acessibilidades para os seus terrenos agrícolas. Tudo tem melhorado e a Aldeia pode orgulhar-se de ter as melhores condições para a agricultura intensiva que pratica, com cujos produtos fornece todos os mercados e praças da região, quer na sede do respectivo concelho, Carregal do Sal, quer nos concelhos limítrofes, principalmente na cidade de Viseu.

1 comentário:

  1. Tempos difíceis. Agora, apesar de, infelizmente, se trabalhar pouco na agricultura, tudo é muito mais fácil. Os tractores e outras máquinas conseguem fazer maravilhas. Muito embora dominados pelo homem, há menos sacrifício e menos esforços.

    Convém aqui recordar como se faziam as regas dos cereais, antes de haver motores de rega.

    Os consortes tinham que criar cales em madeira, pedra ou mesmo erguendo um monte de terra, para por aquele lugar abrir um rego, para levar a água aos pontos mais altos.

    A água era bombeada com baldes de madeira, muito usados nessa época, e cabaços, utensílio de zinco com uma cabo de mais de um metro.

    Segundo consta, o primeiro motor de rega, em Beijós, terá sido do Sr. Ricardo, avô a D.a Isabel, esposa do nosso Querido Amigo, João dos Santos Fernandes (o João Gato), estaríamos nos anos 30/40 do Século passado.

    A partir dessa altura, o motor do Falecido Ricardito não tinha mãos a medir. Trabalhava numa espécie de aluguer,à hora, para regar os milhos de cada um.

    Depois, de pouco a pouco, os motores foram aparecendo, cada vez mais baratos e assim, ainda que algumas famílias tivessem poucas posses para o comprar,por vezes, lá iam pagando às prestações.

    Enfim! Era muito difícil ter 2700$00, para comprar um Brigs.

    Agora já nem é necessário sacho para regar. Muitos Beijosenses colocam a tubagem e os aspersores nos terrenos quase de um ano ao outro. De semana a semana, mesmo à noite, antes de irem para a cama, vão pôr o motor a trabalhar que lá fica a regar, enquanto o proprietário dorme.

    Maravilhoso!:-)

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