As lendas vão correndo de boca em boca, através dos tempos.
Um dia destes, um amigo meu, já entrado na casa dos noventa anos de idade, em amena cavaqueira, fez-me alguns relatos de Beijós, da Póvoa da Pégada, das Laceiras e de outras Aldeias do concelho de Carregal do Sal.
Disse-me que, muitas das histórias já ele as ouviu contar a pessoas mais velhas do que ele, quando ainda era rapaz.
Uma delas, muito curiosa, não posso deixar de divulgar, para que conste, porque parece querer justificar e esclarecer o aparecimento das pégadas na Póvoa:
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"- Conta a lenda que duas Santas e um Santo, num belo dia de sol, decidiram ir passear pelo monte sobranceiro a Sul de Beijós.
Uma das Santas, quando chegaram ao meio da encosta, observando a bela vista que a paisagem lhe oferecia sobre Beijós, Pardieiros e para a Serra do Caramulo, disse que já não subia mais, que já ficava por ali. Sentou-se sobre uma pedra e ali permaneceu a contemplar a paisagem.
Os outros dois Santos continuaram a sua caminhada, o seu passeio.
Um pouco mais acima, no cimo do monte, a outra santa, contemplando a paisagem, disse para o Santo `` - que belo lugar, que bonita toda esta vegetação que consigo observar ao redor deste local, eu já não saio daqui´´. Ali se sentou a observar a paisagem.
Porém o Santo, talvez mais ambicioso, disse para esta Santa que iria continuar o passeio mesmo sozinho e prosseguiu na sua caminhada. Desceu mais para Sul, em direcção à Serra da Estrela. Mas, chegando um pouco pais abaixo, junto de um ribeiro e de vinhedos, decidiu também sentar-se e fixar-se naquele local. Muito embora não tivesse grande paisagem, procurou aproveitar o fresco do ribeiro para saborear as uvas que, então, os vinhedos já ostentavam.
Assim, o Povo passou a designar os três Santos, por:
Nossa Senhora da Pégada, Padroeira da Póvoa da Pégada;
Nossa Senhora dos Milagres, que se venera no seu Santuário no alto das Laceiras;
S. Tiago, Padroeiro das Laceiras. "
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Terá sido nesta Pedra que, então, a Nossa Senhora da Pégada ficou sentada?
Mais um precioso registo da “História Viva” da nossa região. Antigamente, as histórias e lendas locais só sobreviviam verbalmente de uma geração para a outra. Agora, a internet (ainda que com todos os seus espinhos) e especialmente sítios como este, são instrumentais para recolher e difundir estas pequenas jóias da nossa cultura. Continuem a falar com os nossos idosos e a absorver essa riqueza. Obrigado.
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