domingo, fevereiro 06, 2011

BEIJÓS » A DOR QUE NOS TOCA

OS TEMPOS E AS PESSOAS
O cidadão que vemos na fotografia, António de Almeida Santos, nasceu em Beijós.
Na Escola Primária da nossa Aldeia ele concluiu a 4.ª classe.
O seu pai, Manuel dos Santos, quando ele era criança, protegia-o e comentava "... o meu rapaz não irá cavar terra para os pés, como eu".
Logo que fez exame da 4.ª Classe foi mandado para Lisboa, à procura de emprego.
Na Capital terá sido empregado do comércio, até atingir a idade adulta.
Cumpriu o serviço militar e, em 1971/72, ingressou na Polícia de Segurança Pública.
Foi colocado na então 4.ª Esquadra - Praça da Alegria, da PSP de Lisboa.
Em 1973/74, deixou a PSP e empregou-se na Carris (CCFL), como cobrador.
Em 1974, deixou a Carris e procurou ingressar de novo na PSP, cuja pretensão lhe foi recusada.
Depois, encontrámo-lo na Praça General Humberto Delgado, em Lisboa (Sete Rios), a vender castanhas assadas, no Outono/Inverno e gelados no Verão, forma que encontrou para ultrapassar alguns espinhos da vida.
Foi emigrante em França e no Canadá, mas com pouco sucesso.
Regressou a Portugal e passou a percorrer, a pé, o País de norte a sul, cujo espaço continental, segundo diz, conhece bem.
É um cidadão sem abrigo, em Lisboa, cidade que conhece muito bem e onde faz as maiores paragens.
Outrora, durante o Verão, entre 1998 e 2004, pernoitava num banco debaixo da tiliácea no espaço da Junta de Freguesia de Cabanas de Viriato, mesmo em frente à Casa do Passal, onde nos surpreendeu e em cujo local todos os dias nos esperava, para receber alguns trocos e um maço de cigarros.
Perante o seu passado e por aquilo que conhecemos dele, sempre lhe dispensámos algum carinho e, então, propusemo-nos a tomar com ele um café, em Cabanas de Viriato. Entristeceu-nos a forma como o comerciante o recebeu, pondo-o fora do estabelecimento quase à paulada e negou-lhe o café. Lições que também nos ficam para a vida.
Com alguma humildade, nunca nos volta as costas, onde quer que nos encontre.
Entristece-nos a vida que ele adoptou. Mas, pelo que já conseguimos apurar, sente-se bem assim. Diz que está em plena liberdade, sem qualquer encargo pessoal ou familiar.
No dia 24 de Junho de 2010, cruzámo-nos com ele em Beijós. Ainda que não se enquadrasse nas festas religiosas em louvor de São João Baptista, na altura em que a respectiva procissão percorria as ruas da nossa Aldeia, ele por ali andava sem criar conflitos e, ao ver-nos posou especialmente com um gesto carinhoso e de respeito, para a fotografia, mesmo junto do forno comunitário, no Vale da Loba.
Ainda que seja desconsiderado por alguns Beijosenses, gostamos da sua presença e, como Beijosense que é, afigura-se-nos que merece ser acolhido na sua Terra Natal pelos seus conterrâneos, por forma a sentir-se apoiado, sem necessidade de estender a mão à caridade.
Para todo o ser humano, elevando o pensamento ao Mais Alto a vida é sempre mais fácil!

7 comentários:

  1. Precisamos saber conviver com as adversidades, pois, "CADA UM SABE A ALEGRIA E A DOR QUE TRAZ NO CORAÇÃO" (Epitáfio/Titãs).

    Anabela Costa

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  2. Olá Anabela
    Gostámos da tua colaboração!
    Foi muito oportuna e veio recordar-nos pensamentos muito valiosos.
    O nosso obrigado!

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  3. Obrigada,tbém gosto muito de visitar os blogs de Beijós. E às vezes, é difícil deixar de manifestar pensamentos, opiniões. Como a da cabaça na árvore (rsrsrs) me fez lembrar muito do meu avô (André da Costa). Lembro de quando ele ia plantar batatas,etc, e deixava o garrafão de vinho pendurado na árvore. Viajei no tempo.
    Com relação a este senhor, percebi uma semelhança incrível com muitos "andarilhos" e moradores de rua,situações comuns até demais no país e na enorme cidade onde vivo (S.Paulo/Brasil). Aqui, ninguém mais repara neles, mas, aí sim, ao menos,ele teve uma demonstração de afeto. Achei bem legal.


    Anabela Costa

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  4. Olá Anabela
    Foi com imensa alegria que vimos que é descendente de Beijosenses e que conhece a Aldeia dos seus ancestrais.
    Conhecemos os seus avós, quando eles amanhavam as terras lá para a Praçaria e... outras.
    Seguramente que conhecemos os seus pais, porquanto nos lembramos de todos os filhos do André da Costa, o carpinteiro.
    Muito bom VC ter dado essa dica.
    Tudo de bom para VC e para todos os seus familiares aí no Brasil.

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  5. Parabens pelo artigo J.Carvalho

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  6. Olá J. Carvalho
    Gostei de o ver passar por aqui...
    Obrigado pelo incentivo!
    Volte sempre!
    Um Abraço.

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  7. E mais uma vez, obrigada pela receptividade e pelo carinho.
    Muito sucesso, saúde e paz para todos vocês.

    Anabela.

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